Um coveiro sádico e cruel aterroriza os moradores de uma pequena e pacata cidade do interior brasileiro. Seu plano diabólico é encontrar uma mulher perfeita para gerar o seu místico filho primogênito. Nesta busca insana, o temível Zé do Caixão irá promover um verdadeiro show de horrores na cidade.
Esta é a premissa da saga de um dos maiores personagens do cinema de horror em todos os tempos: O emblemático Zé do Caixão. Criado pelo cineasta autodidata José Mojica Marins, o coveiro mais famoso do mundo apareceu pela primeira vez em 1964, no aclamado À Meia Noite Levarei sua Alma, um verdadeiro clássico do cinema de horror. Ao contrário do que faz parecer a grande mídia mentecapta, com suas matérias jocosas e inúteis sobre os filmes do Zé do Caixão, o cinema de José Mojica Marins não pertence ao subgênero trash, ficando muito melhor enquadrado em um movimento do cinema brasileiro conhecido como Cinema Marginal. Tal corrente surgiu como uma resposta estética ao Cinema Novo e o enunciado fílmico desta vertente cinematográfica é comumente reconhecido como moralmente baixo. No caso dos filmes de José Mojica Marins, o enunciado fílmico constrói a imagem abjeta e repulsiva para causar no espectador o sentimento de desestruturação e reequilíbrio, através do efeito catártico, numa operação simbólica que contribuirá para a efetivação de enunciados constantes no cinema de Mojica: o questionamento crítico e irônico sobre a natureza humana (SILVA, 2010). Além de se valer do horror próprio ao Cinema Marginal (repulsa), Mojica também se enveredou pelo Horror como gênero (clássico), ao tratar de temas como o medo (Ibidem).
Distante de qualquer maneirismo enfadonho, Mojica criou as bases do horror brasileiro ao incorporar em seus filmes o universo da cultura cabocla e as superstições que permeiam o imaginário tupiniquim. Aclamado por cineastas, artistas e cinéfilos mundo à fora, em sua terra natal luta para ser reconhecido e muitas vezes se presta a realizar participações em programas decadentes da TV. Em um excerto antológico do livro Maldito, biografia de Mojica escrita por Ivan Finotti e André Barcinski, é descrito um terrível e trágico contraste: após receber prêmios na Europa e EUA, Mojica retorna ao Brasil para animar um bingo no interior de São Paulo.
Dizia o filósofo Nietzsche que a arte é a embriaguez da vida, uma vontade e um estímulo para viver. É possível identificar esse estímulo de vida na obra de Mojica Marins, que segue viva na mente daqueles que se permitem, sem preconceitos e falso moralismo, mergulhar no universo fantástico do terrível Zé do Caixão, onde repulsa e catarse se complementam num movimento dialético ocasionado apenas pelas mais sublimes obras de arte produzidas pelo homem.
Texto escrito por Alvaro Nunes, Bacharel em História - Memória e Imagem pela UFPR e Especialista em Cinema pela UNESPAR.
Referências:
SILVA, Odair José Moreira da ; Entre a abjeção e a catarse: a figurativização do grotesco em José Mojica Marins. Semeiosis: semiótica e transdisciplinaridade em revista , v. 01, p. (e) 01-20, 2010.
BARCINSKI, André; FINOTTI, Ivan. Maldito: A Vida e o Cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. São Paulo: Editora 34, 1998.
domingo, 13 de março de 2016
A Arte Viva de José Mojica Marins: Homenagem ao 80° aniversário do Artífice do Horror Nacional
Sobre Hell Business - O Reduto dos Monstros
Olá, amig@s! Sou colecionador de filmes clássicos do gênero Horror em todas as suas vertentes e disponibilizo, aqui neste site, o meu acervo completo com o propósito de realizar um resgate cultural e compartilhamento de material raro com os grandes fãs do gênero.
JOSÉ MOJICA MARINS (ZÉ DO CAIXÃO)
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