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Morte todas as tardes¹ : o antológico Cine Trash da TV Bandeirantes |
A trajetória do cineasta José Mojica Marins se confunde com a própria história do cinema de Horror no Brasil. Em 1996, o lendário cineasta escreveria mais um capítulo dessa história, ao retornar à TV Bandeirantes (entre 1967 e 1968 ele apresentou o programa Além, Muito Além do Além, na emissora) para apresentar o memorável Cine Trash, uma sessão de filmes que exibiu mais de 170 produções de Horror, durante os quase dois anos que ficou no ar.
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Propagandas nos jornais (Fonte: maratonatrash.blogspot.com.br) |
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Matéria sobre a estreia do Cine Trash (Fonte: maratonatrash.blogspot.com.br | ) |
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Em sua primeira fase, Zé do Caixão e as "guardiãs" apresentaram filmes clássicos do Horror, Ficção Científica, Slasher e Trash em plena 15h15 da tarde, algo completamente impensável nos dias atuais, já que hoje existe o Sistema de Classificação Indicativa Brasileiro. Em sua segunda fase, o programa passou a ser exibido no horário noturno, às 22h30, porém não contava mais com a apresentação de Zé do Caixão. O Cine Trash ficou marcado na memória dos fãs de Horror e influenciou uma geração de jovens, que saíram em busca de uma câmera amadora para produzir seus filmes caseiros.
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Matéria anunciando os filmes do Cine Trash (Fonte: maratonatrash.blogspot.com.br) |
Produções que sequer seriam lançadas no Brasil, ou mesmo em qualquer outra parte do mundo, passaram no Cine Trash, que possuía uma programação eclética dentro do universo do Horror, chegando a exibir grandes produções das décadas de 1960 e 1970. Não obstante, sua ênfase estava nas produções independentes dos anos 80, muitas das quais produzidas diretamente para o vídeo.
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Zé do Caixão e as "guardiãs" |
O Cine Trash criou seus próprios clássicos, como Psycho Cop - Ninguém está em Segurança (1989), A irmandade de Satanás (1971), A Visão do Terror (1986), Basket Case 2 (1990), O Portão II - Eles Estão de Volta (1990) e Abominável Criatura (1988), além de muitos outros, hoje cultuados pelos saudosistas do programa.
Pérolas impagáveis do cinema subterrâneo, que não seriam exibidas em nenhuma TV do mundo, aberta ou fechada, passaram nas tardes malditas da Bandeirantes, como A Galeria dos Alienígenas (1986), O Maníaco (1980) e A Semente da Maldição (1990).
A melhor fase do programa foi, sem dúvida, a vespertina. Os filmes foram exibidos quase todos os dias, durante todo o ano de 1996. A sangueira só era interrompida quando o horário da sessão entrava em conflito com o de algum evento esportivo (na época a Bandeirantes era "o canal do esporte"), como os jogos olímpicos de Atlanta ou a Eurocopa.
O programa teve tanta influência que acabou por introduzir o termo Trash no vocabulário popular brasileiro, fazendo com que o subgênero fosse, no entanto, equivocadamente associado aos filmes de José Mojica Marins e a qualquer filme que utilizasse violência gráfica exacerbada e muito sangue.
No final de 1996, a sessão passou a ser exibida de maneira aleatória em horário vespertino e noturno, com exibições regulares nas noites de segunda-feira. Durante o período em que foi exibido, o Cine Trash teve altos índices de audiência, no entanto "pressões externas" fizeram o programa sair do ar em outubro de 1997, deixando muitos espectadores desolados. A lacuna deixada na parte da tarde foi preenchida pelo desprezível Programa H, apresentado por Luciano Huck.
Felizmente, muitos dos filmes exibidos naquela antológica sessão foram preservados em VHS e hoje encontram-se em versões digitais, outros tiveram lançamento no exterior e já é possível apreciá-los com legendas em Português-BR. No Acervo Hell Business, alguns possuem versão dupla: uma gravada do Cine Trash (TVRIP) e outra com qualidade digital e legendas e/ou áudio em português. Relembre aquele momento áureo da TV aberta brasileira conferindo estas preciosidades memoráveis. Recomendo incondicionalmente.
Texto escrito por Alvaro Nunes, Bacharel em História - Memória e Imagem pela UFPR e Especialista em Cinema pela UNESPAR.
Notas:
1 - O título desta matéria faz um trocadilho com o titulo de um famoso artigo do crítico Andre Bazin.
Referências:
CÁNEPA, Laura Loguercio. Recorrente no cinema popular brasileiro desde os anos 1960, o Horror volta à cena em produções de guerrilha e com metáfora social. In Filme Cultura. Nº 61-novembro-dezembro 2013-janeiro 2014.
ESTA SESSÃO ME DEIXOU MUITAS SAUDADES,LEMBRO UMA VEZ DE DEIXAR O VIDEO CASSETE PROGRAMADO PARA GRAVAR ENQUANTO EU TRABALHAVA, MESMO NÃO SABENDO QUAL FILME IRIA PASSAR,E QUANDO CHEGUEI EM CASA ESTAVA GRAVADO O FILME "CHAKMA -FÚRIA ASSASSINA"O MELHOR FILME DE TODOS QUE EU ASSISTI NO CINE TRASH.
ResponderExcluirOlá Carlos. Com certeza, bons tempos da TV aberta com o Cine Trash. Shakma foi um dos grandes filmes que passou no memorável Cine Trash. Obrigado pelo comentário e pela visita.
ExcluirAbraço.